O curso prático para estudantes proporciona uma experiência inesquecível na formação do estudante de Medicina. Veja a seguir o relato de dois estudantes que fizeram o curso recentemente.
Alunos: Ícaro Salerno Fernandes e Marina Pozzi Lanza
Tendo participado do XVII congresso da SOBRAMFA, realizado dias 8 e 9 de novembro de 2013 em Jundiaí, nos interessamos pelo tipo de visão diferenciada que os médicos dessa sociedade passaram durante a conferência. Quando se pensa sobre o nome SOBRAMFA, que significa Sociedade Brasileira de Medicina de Família, logo vem à mente algum programa governamental instituído no Brasil. Entretanto, trata-se na verdade de um grupo atuante em vários estabelecimentos de saúde, tanto públicos quanto privados, que levam a mensagem da humanização no atendimento e alívio do sofrimento das pessoas e de suas famílias, característica rara atualmente. Gostamos tanto dessa filosofia apresentada pela equipe no congresso, que resolvemos fazer o estágio por eles proposto. Eis que relatamos resumidamente (link para o texto completo) como ocorreu esta fantástica experiência.
No primeiro dia, participamos da reunião científica na sede da SOBRAMFA. Chegamos ao prédio sede da sociedade e nos encontramos com os médicos que iriam nos acompanhar na semana do estágio. Almoçamos juntos e conversamos sobre nossa faculdade, o estágio, a medicina de família e outras coisas. Depois, houve uma sessão de apresentação e discussão de artigos científicos, o que nos pareceu uma metodologia muito interessante, pois permite que os médicos se mantenham atualizados e discutam sobre novas técnicas que podem ser adotadas para melhorar a qualidade de vida de seus pacientes, reduzir custos, aumentar a efetividade de determinados medicamentos, entre outros benefícios.
No segundo dia fomos a um hospital e a um instituto de câncer. Fizemos visitas a quartos do hospital pela manhã, depois vimos o atendimento de pacientes em consultório. À tarde fomos ao instituto, onde ficamos no consultório, no ambulatório, no pronto socorro, visitamos a UTI e os centros de pesquisa do instituto. Após esses casos, fomos para o ambulatório com o Dr. Marco. No ambulatório, passaram vários pacientes com queixas de dor, insônia, pressão alta. Porém, um casal nos marcou devido à sua dramática história. Depois de um verdadeiro desabafo que envolvia questões familiares, aflições e preocupações tanto do casal quanto da nora que os acompanhava, estávamos ansiosos em ver qual seria a conduta do Dr. Marco. Interessante para nós foi notar que, muito diferente das consultas médicas em que estávamos como pacientes, o Dr. Marco Aurélio não interrompia a fala de nenhum dos pacientes. Mesmo quando, em certos momentos havia um silêncio, o médico apenas aguardava a conclusão. Foi muito bom ver que essa postura foi essencial, dado que após o momento sem falas, mais revelações do casal surgiram. O doutor disse para eles que poderia prescrever medicamentos para reduzir os tremores, depressão e ansiedade; porém ressaltou que nenhum desses remédios resolveria seus problemas familiares. Esse caso nos ensinou que para ser um médico não basta saber farmacologia, fisiologia, e outras matérias estritamente racionais. É necessário ser também ouvinte, psicólogo, auxiliador, e acima de tudo um amante da profissão.
No terceiro dia estivemos num hospital de retaguarda e no consultório de um estabelecimento privado. O hospital de retaguarda é um local em que se atendem pacientes que não precisam de atendimento a nível hospitalar, mas também não conseguem ser mantidos em casa. No começo foi um pouco chocante ver o estado dos pacientes, pois a maior parte deles tinha um quadro de demência, dificuldades respiratórias e úlceras cutâneas. No entanto, o carinho dos profissionais com os pacientes e familiares nos fez pensar que, por pior que seja a situação de uma família, é fundamental que todos tenham um tratamento digno que reduza ao máximo o fardo da doença. Tivemos também o prazer de participar de uma reunião da equipe, em que os profissionais das diferentes áreas discutiam a situação de cada paciente, um a um. No mesmo dia, já no consultório, passamos a tarde no consultório do Dr. Marcelo. Muitos dos pacientes atendidos vinham apenas mostrar exames, ou checar seu estado de saúde. Alguns eram casos mais sérios, como de insuficiência renal, demência, diabetes, osteoporose, esquizofrenia e também vários casos de insônia e ansiedade. Muitos dos pacientes queriam apenas conversar, contar seus problemas.
No quarto dia fomos a uma casa de repouso privada e novamente ao hospital de retaguarda. Na casa de repouso fomos acompanhados pela Dra. Rosana. O estabelecimento é uma casa de repouso particular, em que os idosos ficam hospedados e recebem cuidados médicos, nutricionais e de higiene. No hospital de retaguarda, fomos acompanhados pela Dra. Rosana. As coisas ocorreram mais ou menos da mesma forma que na primeira visita do dia anterior.
No quinto dia estivemos, pela manhã, no mesmo hospital que estivemos no segundo dia e acompanhamos visitas domiciliares à tarde, dessa vez juntos à Dra. Rosana. Vimos alguns pacientes novos, e outros que estavam lá desde nossa última visita. Porém, muitos já tinham recebido alta. Depois fomos ao ambulatório. Lá vimos muitos casos parecidos com os que presenciamos com o Dr. Marco na última vez em que estivemos no ambulatório. Visitamos no período da tarde, com a Dra. Rosana, a casa de duas senhoras.
Com o estágio concluído, podemos dizer que ele nos proporcionou muitos aprendizados, não apenas para nossa carreira como médicos, mas também para nossa vida pessoal. Nós tivemos uma boa noção de como é a vida de um médico, quais são as principais queixas dos pacientes, e o que eles esperam de nós. Presenciamos o valor da boa comunicação, e a importância de entender as angústias dos pacientes, que muitas vezes precisam de apoio não apenas físico, mas emocional. Vimos também a necessidade de uma equipe multiprofissional alinhada com a filosofia da humanização, e que apenas com união e ajuda mútua é possível se realizar um bom trabalho. Não há nada melhor do que ouvir um agradecimento de alguém que sofre, receber um abraço de alguém aliviado ou ver a mudança no rosto dos familiares quando o paciente começa a se recuperar. É claro que há muitos momentos de tristeza, dor e morte; porém, poder ajudar aqueles que sofrem é a maior recompensa de todas.